Santo Agostinho dramatizado na Batalha

Sexta, 23 De Abril De 2004

Santo Agostinho dramatizado na BatalhaA Autarquia da Batalha aderiu ao VI Festival de Teatro da Alta Estremadura, no âmbito das comemorações alusivas ao Ano Agostiniano que se comemora em 2004 e que pretende recordar uma das personagens mais importantes da Igreja Católica.
Cabe à Vila da Batalha acolher o primeiro espectáculo integrado neste Ciclo, a interpretar pelo Teatro Amador de Pombal, na próxima quarta-feira, dia 28 de Abril, às 21h30, no Auditório Municipal da Batalha, sendo a entrada gratuita.
Um mês depois, mais concretamente no dia 26 de Maio, a Igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória recebe o conhecido encenador Norberto Barroca que trará a este ciclo o grupo Sport Operário Marinhense, com a encenação da peça "Ao Encontro da Luz".
Por fim, os elementos do Te-Ato, em data a anunciar brevemente, representarão "Confissões de Aurélio - Dito o Santo Agostinho".




Sobre a peça ""A fantástica aventura do devasso que virou Santo" - Teatro Amador de Pombal


Santo Agostinho é uma personagem teatralmente interessante, já que é obsessivo e polémico. É uma personagem heróica. Agostinho é, definitivamente, um herói da igreja católica: com o seu brilhantismo e a sua energia arrebatadora derrotou as forças consideradas heréticas e foi um dos responsáveis pela estruturação do catolicismo, não apenas como religião, mas também como instituição.
As suas posições polémicas podem ampliar o interesse e a comunicabilidade de uma peça: o pecado original, a condenação eterna dos inocentes, a predestinação, o livre-arbítrio, a defesa da tese de que Deus tem seus eleitos e o sexo como sinonimo de pecado - são temas actuais, que permanecem no dia-a-dia do homem contemporâneo.
Seria melhor, então, não apenas adaptar "As confissões", mas abrir mais o enfoque, mostrando a trajectória de sua vida - sua juventude pagã; sua relação com Floria; seu filho bastardo Adeodato; o envolvimento com sua mãe; seu prestígio político. Tudo isso pode ajudar a plateia de hoje a criar um contacto real com o que se passa no palco, à medida em que, falando de Agostinho e do século I, teremos a possibilidade de levantar questões concretas sobre a sociedade do século XXI.
Numa dramaturgia, o herói não deve ser diminuído com a apresentação apenas de suas qualidades e de suas vitórias. Isso empobrece o herói. Rico é o herói que tem contradições, complexidades. E isso Agostinho tem.
A obra de arte, por sua vez, também não deve ser assim tão esquemática. Isso empobrece a obra. Rica é a obra que estabelece uma dialéctica: avanços e recuos, branco, preto e também o cinza. É pobre falar apenas das qualidades do herói, no estilo realismo-socialista. Os defeitos de Agostinho, junto com suas qualidades, tornam a personagem muitíssimo mais humano. E mais rico.



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