A Autarquia da Batalha aderiu ao VI Festival de Teatro da Alta Estremadura, no âmbito das comemorações alusivas ao Ano Agostiniano que se comemora em 2004 e que pretende recordar uma das personagens mais importantes da Igreja Católica.
Cabe à Vila da Batalha acolher o primeiro espectáculo integrado neste Ciclo, a interpretar pelo Teatro Amador de Pombal, na próxima quarta-feira, dia 28 de Abril, às 21h30, no Auditório Municipal da Batalha, sendo a entrada gratuita.
Um mês depois, mais concretamente no dia 26 de Maio, a Igreja do Mosteiro de Santa Maria da Vitória recebe o conhecido encenador Norberto Barroca que trará a este ciclo o grupo Sport Operário Marinhense, com a encenação da peça "Ao Encontro da Luz".
Por fim, os elementos do Te-Ato, em data a anunciar brevemente, representarão "Confissões de Aurélio - Dito o Santo Agostinho".
Sobre a peça ""A fantástica aventura do devasso que virou Santo" - Teatro Amador de Pombal
Santo Agostinho é uma personagem teatralmente interessante, já que é obsessivo e polémico. É uma personagem heróica. Agostinho é, definitivamente, um herói da igreja católica: com o seu brilhantismo e a sua energia arrebatadora derrotou as forças consideradas heréticas e foi um dos responsáveis pela estruturação do catolicismo, não apenas como religião, mas também como instituição.
As suas posições polémicas podem ampliar o interesse e a comunicabilidade de uma peça: o pecado original, a condenação eterna dos inocentes, a predestinação, o livre-arbítrio, a defesa da tese de que Deus tem seus eleitos e o sexo como sinonimo de pecado - são temas actuais, que permanecem no dia-a-dia do homem contemporâneo.
Seria melhor, então, não apenas adaptar "As confissões", mas abrir mais o enfoque, mostrando a trajectória de sua vida - sua juventude pagã; sua relação com Floria; seu filho bastardo Adeodato; o envolvimento com sua mãe; seu prestígio político. Tudo isso pode ajudar a plateia de hoje a criar um contacto real com o que se passa no palco, à medida em que, falando de Agostinho e do século I, teremos a possibilidade de levantar questões concretas sobre a sociedade do século XXI.
Numa dramaturgia, o herói não deve ser diminuído com a apresentação apenas de suas qualidades e de suas vitórias. Isso empobrece o herói. Rico é o herói que tem contradições, complexidades. E isso Agostinho tem.
A obra de arte, por sua vez, também não deve ser assim tão esquemática. Isso empobrece a obra. Rica é a obra que estabelece uma dialéctica: avanços e recuos, branco, preto e também o cinza. É pobre falar apenas das qualidades do herói, no estilo realismo-socialista. Os defeitos de Agostinho, junto com suas qualidades, tornam a personagem muitíssimo mais humano. E mais rico.